segunda-feira, 30 de novembro de 2015

Abertura já

No início dos anos 1980, Brasil e Coreia tinham níveis semelhantes de renda per capita e de produtividade do trabalho.
Na época, havia muitas dúvidas sobre os modelos de desenvolvimento econômico mais apropriados ao que vinha pela frente, e entre os países hoje conhecidos como emergentes destacavam-se duas “escolas”: de um lado estavam os chamados “tigres asiáticos” (Coreia, Taiwan, Hong Kong e Cingapura), que buscavam maior integração na economia global através da “promoção de exportações” (e importações), e de outro, os latino-americanos, com seus modelos de “substituição de importações”, ênfase no mercado interno e autossuficiência.

Eu dava meus primeiros passos como pesquisador, e, em conferências internacionais, os encontros com os colegas asiáticos tinham lugar em um clima de certa rivalidade, muitas vezes sadia e bem-humorada, mas com alguns estranhamentos patrióticos inevitáveis. Todos eram acadêmicos em busca de verdade, mas com certa torcida.

Nós defendíamos nossas cores argumentando que o modelo não era importante se o país fosse competitivo e que, como o mercado interno dava escala ao produtor nacional, o protecionismo devia ser utilizado de forma pragmática. Ademais, era justo que o Brasil procurasse reduzir sua vulnerabilidade externa em razão dos estragos causados pelos preços do petróleo.

Como éramos ingênuos…
Eles diziam que não estávamos entendendo nada sobre globalização e que era bom nos adaptarmos a isso em vez de nos esconder, e que a proteção redundava em deprimir a competitividade, pois as “economias da preguiça” dominavam as de escala. Diziam também que o mercado interno não era nada comparado com o mercado mundial, que estávamos olhando o problema da vulnerabilidade externa de cabeça para baixo, e que a maneira mais barata de arrumar petróleo era produzir alguma coisa em que fôssemos competitivos para trocar com os árabes.

E ficamos assim, cada qual defendendo o seu quadrado.
Trinta e cinco anos depois, está mais do que claro que nós levamos uma surra, que eles tinham razão e que nós embarcamos em uma canoa furada.
A renda per capita da Coreia hoje está perto de 75% da renda per capita dos EUA, ou seja, mais que triplicou, ao passo que o Brasil, que estava perto de 25% da renda americana nos anos 1980, desceu para 18% na avaliação mais recente.

Nos 50 anos anteriores a 1982, o Brasil estava entre os melhores desempenhos do mundo em matéria de crescimento. Mas a mágica que funcionou até aí se perdeu, ou as circunstâncias mudaram, ou ambas. Talvez o segredo do sucesso esteja em adaptar-se a circunstâncias incomuns, como fizemos nos anos 1930, mas fracassamos redondamente depois de 1982. Permanecemos insistindo nas mesmas receitas e já fazem 35 anos de desempenho medíocre.

Será que não está na hora de repensar radicalmente a nossa estratégia de inserção externa? E de rever nossas crenças sobre o conteúdo nacional, “adensamento das cadeias produtivas” e acordos internacionais?
Eles estavam certos em outras coisas, como a suprema importância da exposição à competição internacional para conduzir as empresas à competitividade. Isso se dava, segundo diziam, por que não existia mais “indústrias nascentes”, apenas multinacionais mudando de lugar, e fazendo escolhas tecnológicas determinadas pelo ambiente.
O demônio do protecionismo, todavia, parece bem mais resistente, talvez por que os interesses que vivem sob a sua sombra possam se enrolar na bandeira nacional e exibir uma falsa respeitabilidade beirando a canalhice.
 
Se é para abastecer um mercado interno protegido e com obrigações de conteúdo local, elas adotam o “kit nacionalista”, mas se é para participar da globalização, a chave é outra e a filial se organiza para fazer parte de uma cadeia internacional de valor.

Uma estatística para filiais americanas funcionando no Brasil em 1977 indicava que apenas 8,7% das vendas eram para o exterior, enquanto que na Ásia a razão exportações sobre vendas totais era de 81,2%. As proporções foram para 25% e 52% em 2010, e a média mundial é 45%.
Eram estilos diferentes de inserção externa e que traziam vastas implicações para o tema da vulnerabilidade externa. A descoberta sobre esse assunto nada tinha de intuitiva para nós: em assuntos de balanço de pagamentos, o rabo balança o cachorro.
Explica-se. Um país com importações iguais a exportações na faixa de 35% do PIB, como a Coreia, podia gerar um superávit comercial de 7% do PIB com uma desvalorização cambial de meros 10%. Mas, para um país como o Brasil, com importações iguais a exportações na faixa de 7% do PIB, o mesmo superávit precisaria de uma desvalorização cinco vezes maior, de 50%, uma encrenca.
Portanto, e surpreendentemente, quanto mais fechado, mais “vulnerável”!
Descobrimos essa triste matemática em 1982, quando começou uma “década perdida” que está durando 35 anos.

Uma conclusão tentativa é que, como coletividade, o Brasil é de uma teimosia exasperante no terreno das relações internacionais, mais até que nos assuntos ligados à inflação, onde insistimos com “teorias” heterodoxas até esgotar a paciência do brasileiro. Ressalvada a escorregada recente, aprendemos a lição sobre inflação.

O demônio do protecionismo, todavia, parece bem mais resistente, talvez por que os interesses que vivem sob a sua sombra possam se enrolar na bandeira nacional e exibir uma falsa respeitabilidade beirando a canalhice. Na verdade, a proteção tarifária, as reservas de mercado, desonerações e facilidades para “campeões” parecem se amontoar em tempos recentes, no contexto do “capitalismo de quadrilhas” que aqui se quis implantar, e que a Operação Lava Jato se empenha em combater.

Num livro de 1988, o professor Robert Klitgaard, de Harvard, definiu o grande problema nacional em uma simples equação:
Corrupção = Monopólio + Arbitrariedade – Transparência.
Ou seja, quanto mais distantes do mercado estiverem as relações entre o público e o privado, quanto mais discricionárias as decisões, e quanto menor a transparência, maior será a corrupção.
Tendo em mente a equação acima, apenas uma observação sobre “política industrial ativa”, uma das prioridades do petismo.
Dois economistas (Alberto Ades e Rafael Di Tella) procuraram especificamente uma relação entre corrupção e o que eles denominaram “campeões nacionais”.
Usando dados para 1989-92, de alguns milhares de depoimentos de executivos atuando em dezenas de países, concluem que valores entre 16% e 44% dos investimentos viabilizados por “políticas industriais ativas” se transformam em propina: 30%, em média!
Pois é.
Seria maravilhoso se, junto aos desdobramentos da Operação Lava Jato, pudéssemos rever a vasta constelação de políticas públicas discricionárias e seletivas que tanto favorecem mercados cativos, desvios éticos e prejuízos ao nosso crescimento.

Gustavo Henrique de Barroso Franco é economista, foi presidente do Banco Central do Brasil.

sábado, 24 de outubro de 2015

Mais um texto primoroso de Guilherme Fiuza

 

Guilherme Fiuza, O Globo
Quem roubou não pode chamar o PT de ladrão, disse Luiz Inácio da Silva. Ou seja: ladrão que rouba ladrão tem cem anos de perdão, mas ladrão que xinga ladrão vai se ver com Lula. Até que enfim, uma medida moralizadora. O PT quer ser respeitado ao menos pelos bandidos — o que dentro da cadeia é uma coisa importante.
E por falar em bandido, roubo e cadeia, o delator Fernando Baiano disse que deu R$ 2 milhões do petrolão à nora de Lula. Enquanto isso, retorna à pátria (e à Papuda) Henrique Pizzolato, um dos heróis petistas do mensalão. As obras completas dos companheiros nestes 13 anos são realmente impressionantes. Se o governo do PT fosse um filme, seria o “Sindicato dos ladrões” — com todo o respeito. O mais curioso é como o Brasil se harmonizou bem com esse projeto criminoso de poder, na definição do ministro Celso de Mello (que não roubou, então pode dizer que o PT é ladrão).
Pizzolato esfaqueou o Banco do Brasil, Baiano esfolou a Petrobras — e esses são apenas dois agentes do maior sistema de corrupção da história, regido pelo PT de dentro do Palácio do Planalto. Agora tirem as crianças da sala para a notícia estarrecedora: o PT continua dentro do palácio.
Como escreveu Fernando Gabeira, o Brasil desmoralizou a instituição do batom na cueca. A mancha veio da lavanderia, o batom era progressista e a cueca era do bem. O ministro Gilmar Mendes disse que Dilma não precisa de um Fiat Elba como o de Collor para cair. Claro que não. Ela pode cair pedalando — o que seria inclusive menos poluente. As pedaladas fiscais que o TCU já condenou são crime de responsabilidade, e constituem uma fração do tal projeto criminoso — que não é feito só de mensalões e pixulecos, mas também de fraudes contábeis para maquiar o rombo.
Não deixem as crianças ouvirem: essa orgia companheira acaba de render ao Brasil o selo de país caloteiro. Agora sejam fortes: as pedaladas continuaram este ano, depois de flagradas e desmascaradas, e pelo menos uma das centrais de tramoias do petrolão continuou ativa depois da revelação do escândalo. Deu para entender? O PT é o cupim do Estado brasileiro, e não dá para pedir a ele: senhor cupim, por favor, poderia parar de devorar a mobília até 2018? O Brasil está esperando que os cupins passem a se alimentar de vento estocado e façam o ajuste fiscal.
Dilma Rousseff declarou na Finlândia que este governo não está envolvido com corrupção. É verdade. A corrupção, coitada, é que está envolvida com este governo. De cabo a rabo. A Lava-Jato já apresentou as evidências de que a própria reeleição de Dilma se alimentou do petrolão — e Vaccari, o ex-tesoureiro do PT, está preso por causa disso. Mas o governo promete tapar o rombo, e lá estão os brasileiros com os braços estendidos para a seringa da nova CPMF, ou bolsa cupim. Contando, ninguém acredita.
Nesse meio tempo, num lugar muito distante da Finlândia, o Banco Central informa que desistiu de cumprir a meta fiscal. Note bem: não foi uma frase de Mercadante, Mantega ou outra das nossas autoridades de picadeiro. O Banco Central do Brasil, espremido entre a inflação e a recessão, teve que largar no chão a arma da política monetária: simplesmente não há o que fazer para respeitar a meta fiscal em 2016. Dilma reagiu: pediu à sua equipe econômica para flexibilizar a meta fiscal. Nessa linha, poderia aproveitar e pedir para flexibilizar o Código Penal. Seria mais eficaz neste momento.
O governo parou. Dilma, a representante legal (sic) do projeto criminoso de poder, está morando de favor no palácio. Conta com a blindagem do STF aparelhado, do companheiro procurador Janot e de um bando de inocentes úteis que doam suas reputações em troca de uma fantasia progressista cafona (alguns perderam a inocência na tabela dos pixulecos). Quem pode descupinizar o palácio é o Congresso Nacional. O pedido de impeachment está nas mãos do presidente da Câmara, que um Brasil abobado transformou em inimigo público número um — porque aqui quem assalta com estrelinha no peito é herói. Eduardo Cunha pode ser cassado, condenado ou execrado, só não pode roubar a cena daqueles que roubaram o país inteiro.
Os brasileiros que estão autorizados por Lula a chamar o PT de ladrão estão chegando a Brasília, acampando em frente ao Congresso Nacional. Quando deputados e senadores estiverem devidamente cercados pela multidão, brotará num passe de mágica sua responsabilidade cívica. Aí os nobres representantes do povo farão, altivamente, a descupinização do palácio — sem traumas, em nome da lei. O resto é com a polícia.
Cerco ao Congresso (Foto: Arquivo Google)

 

sábado, 29 de agosto de 2015

CHEGA DE MAIS IMPOSTOS

O Rio Grande do Sul, está quebrado não tendo mais dinheiro nem para pagar a folha do funcionalismo.
Tanto no âmbito nacional com no estadual, esses políticos demagogos ao invés de fazer mudanças e reestruturações profundas do estado, estão propondo o mais simples, que é aumentar e ou criar novos impostos.
Em nosso estado o Governador de plantão quer elevar as alíquotas do ICMS para suprir a falta de caixa. Remédio antigo para uma velha doença pois o governo Rigotto se utilizou desse expediente em 2003, e nada foi resolvido ou melhorado na administração estadual.
No âmbito federal o governo central que já usurpa perto de setenta por cento da riqueza dos estados confederados agora quer recriar a famigerada CPMF, contribuição provisória que se tornou permanente e que graças a mobilização popular foi derrubada em 2008. 
Mas nem por isso o governo se deu por vencido, pois quando a CPMF deixou de ser cobrada, logo em seguida aumentaram a Contribuição sobre o Lucro Líquido (CSLL) dos bancos de 8% para 15% para compensar a perda, e agora recentemente o Congresso aprovou nova subida para 20%.
Também o IOF subiu imediatamente após a extinção da CPMF e hoje arrecada cerca de 30 bilhões de reais por ano, cerca de três vezes mais que 2007. Portanto, o governo federal quer recriar a CPMF mesmo tendo compensado sua extinção de outras formas.
Tudo isso demonstra que estes governos não tem nenhum interesse em controlar gastos e diminuir o tamanho do estado. São todos populistas que não querem de forma alguma executar medidas e fazer mudanças que os façam perder votos. 
O problema do Brasil é ter políticos que pensam para as próximas eleições e não estadistas que planejem o futuro do país para daqui a 50 anos.
Nas ultimas três eleições presidenciais, os brasileiros insistiram em brincar com fogo. Elegeram candidatos paridos nos obscuros porões de sindicatos que vivem as custas dos que realmente trabalham, que os elegem acreditando que assim estariam sendo representados por quem defenderia seu direitos. O Partido dos Trabalhadores está no poder a mais de doze anos e não explica ao trabalhador porque ele trabalhador, tem de pagar mais por qualquer bem durável, serviços públicos e até alimentos, que trabalhadores de outros países como Estados Unidos, França e Itália pagam.
Neste momento em que se confirma oficialmente a recessão no Brasil, com economia estagnada, juros estratosféricos, aumento de desemprego, algo nunca visto desde o advento do Plano Real, seria o momento certo para que os governadores, todos eles, lutassem pela real instalação do pacto federativo, onde a maior parte do dinheiro arrecadado através dos impostos ficariam nos municípios e estados federados, pois é onde realmente as coisas acontecem, e uma parte menor indo para Brasília ai sim, para aplicar nas reais necessidades para a manutenção do Estado. Mas muito pelo contrário, eles preferem juntar-se  num clamor nacional para aumentar impostos e o famigerado custo Brasil e continuar mendigando na capital federal em busca de recursos que originalmente lhes pertence.
Este tipo de política sórdida realmente desanima quem trabalha e realmente produz a riqueza do Brasil. Claro, aqueles que são beneficiados por empréstimos subsidiados no BNDES, dólar nas alturas para continuar exportando sem a mínima preocupação com produtividade, banqueiros que cobram trezentos por cento ao ano para emprestar dinheiro estão fora desse grupo.
As forças de esquerda que infelizmente estão mandando no Brasil tentam jogar pobres contra ricos, negros contra brancos, empregados contra patrões. 
Mas o verdadeiro combate que se trava neste país é os pagadores de impostos contra os consumidores de impostos. E pelo visto os últimos estão ganhando a batalha.

domingo, 28 de junho de 2015

O APELO DE LULA.

Lula, em recente discurso em tom quase confessional no instituto que leva seu nome disse dentre tantas coisa uma em especial.
-"Nós temos de definir se queremos salvar nossa pele e nossos cargos ou queremos salvar nosso projeto". 
Para o Partido dos Trabalhadores essa equação é impossível de solucionar, pois desde a sua fundação até a tomada do poder, o que eles sempre quiseram (projeto), foi aparelhar o estado e tomar conta de todos os cargos(salvar nossa pele).
Lula foi parido pelo pensamento do General Golbery do Couto e Silva, a eminencia parda de todo o período militar. 
O General com medo do crescimento de partidos comunistas controlados por pensamentos gramscistas, viu no líder sindical uma maneira de conter a extrema esquerda brasileira. 
Lula, como presidente do sindicado dos metalúrgicos já negociava com os lideres empresariais, tendo uma visão mais "capitalista" naquele universo esquerdista que ainda hoje predomina na América latina.
Os intelectuais de esquerda, principalmente da USP, tiveram em Lula suas preces atendidas, pois o Brasil pelo seu tamanho e importância jamais seria um estado marxista, desejo deles. 
Dai o nascimento do PT que desde sempre atraiu para si incompetente sem capacidade administrativa e executiva. 
Orbitaram e convivem no partido gente medíocre, que viu a oportunidade de ascender social e economicamente na vida, se locupletando em cargos criados pelo aparelhamento sistemático da máquina publica.
Essa turma, formada por funcionários públicos encastelados na burocracia do estado, empresários amigos com benesses providas pelo governo e jornalistas alugados pelo poder, mantem o status quo atual.
Portanto o que Lula disse, nenhuma coisa nem outra vai acontecer, pois o PT não pode se dissociar dos cargos e empreguismo no qual vive e se alimenta, pois esse é seu projeto.
Caberá ao eleitor decidir se permite ao PT continuar com seu projeto de poder, que levará o Brasil ao abismo, ou se quer uma mudança na condução do país com uma guinada à direita, sem medo dos "progressistas", pois no meu pensamento é a única solução para as nossas crises sazonais. 



sábado, 10 de janeiro de 2015

Texto de Guilherme Fiuzza

Publicado no jornal O Globo.

Ao ser diplomada no TSE para o novo mandato, Dilma Rousseff propôs um pacto nacional contra a corrupção. Quase na mesma hora, a Controladoria-Geral da União afirmava que a compra da Refinaria de Pasadena não foi um mau negócio, foi má-fé. Dilma presidia o Conselho de Administração da Petrobras, responsável pela aprovação da negociata. A dúvida é se os critérios para a compra da refinaria e para o pacto anticorrupção serão os mesmos.
O Brasil precisa saber urgentemente qual será o papel do tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, no pacto nacional contra a corrupção. Nas investigações da Polícia Federal, Vaccari é acusado de beneficiário do esquema do petrolão, e de injetar propinas na campanha de Dilma — essa mesma que foi reeleita e diplomada declarando guerra à corrupção. As faxinas da presidente deixariam o FBI de cabelo em pé.
Os EUA, aliás, já foram apresentados às entranhas do governo popular, com a chegada do escândalo da Petrobras à Justiça americana. O problema é que lá não tem um Lewandowski ou um Dias Toffoli para tranquilizar os companheiros na última instância. Também não tem um ministro da Justiça servindo de garoto de recados do marqueteiro petista. Como incluir os americanos, holandeses e suíços lesados pelo petrolão no pacto contra a corrupção? Será que o apoio deles custa mais do que os da UNE e do MST?
Uma das ascensões políticas mais impressionantes nos últimos anos foi a do ex-deputado André Vargas. Virou secretário de comunicação do PT e chegou a falar grosso com o STF no julgamento do mensalão — cuja transmissão televisiva ele queria embargar. Depois provocou Joaquim Barbosa publicamente, fazendo a seu lado o gesto do punho cerrado dos mensaleiros. André Vargas chegou à vice-presidência da Câmara dos Deputados, nada menos. Aos inocentes que não entendiam aquela ascensão meteórica, veio, enfim, a explicação: Vargas era comparsa do doleiro Alberto Youssef, o operador do petrolão.
Essa singela crônica de sucesso mostra que hoje, no Brasil, não há nada mais claro e seguro do que a lógica de funcionamento do PT. A qualquer tempo e lugar que você queira compreendê-la, o caminho é simples: siga o dinheiro.
Seguindo o dinheiro (farto) do doleiro, a polícia chegou a uma quadrilha instalada na diretoria da Petrobras sob o governo popular. Tinha o Paulinho do Lula, tinha o Duque do Dirceu, tinha o tesoureiro da Dilma, tinha bilhões e bilhões de reais irrigando a base de apoio do império petista. Um ou outro brasileiro mal-humorado se lembrou do mensalão e resmungou: mais um caso de corrupção no governo do PT. Acusação totalmente equivocada.
O mensalão e o petrolão não são casos de corrupção. Pertencem a um sistema de corrupção, montado sob a bandeira da justiça social e da bondade. Vamos repetir para os que seguiram o dinheiro e se perderam no caminho: trata-se de um sistema de corrupção. E as investigações já mostraram que esse sistema esteve ligado diretamente ao Palácio do Planalto nos últimos dez anos. Um deputado de oposição disse que o maior medo do PT não era perder a eleição presidencial, mas que depois Dilma fizesse a delação premiada.
E lá vai o Brasil para mais quatro anos dessa festa. Quem tem autoridade para acreditar que o método será abandonado? Quem em sã consciência pode apostar que um grupo político que se enraizou no Estado brasileiro para saqueá-lo irá fazer tudo diferente agora? Responda, prezado leitor: quem são as pessoas nesse governo ou nesse partido capazes de liderar uma guinada virtuosa? Lula? Dilma? Vaccari? Mercadante? Pimentel? Cardozo? Carvalho? Dirceu? Delúbio?
Mesmo depois de passada toda a propaganda suja da eleição, mesmo depois de exposta a destruição da maior empresa brasileira pelos que juravam amá-la, Dilma não recuou. Foi para cima do Congresso e rasgou a Lei de Responsabilidade Fiscal. Obrigou o parlamento a legalizar o golpe do governo popular contra a política de superávit — que é um dos pilares da estabilidade monetária. O que falta fazer?
Que passe de mágica devolverá a credibilidade a um governo desmoralizado no país e no exterior? Quem vai querer investir aqui com esse bando de parasitas mudando as regras ao sabor das suas conveniências fisiológicas? Quem tem coragem de afirmar (com alguma dignidade) que os próximos quatro anos poderão reerguer esse Brasil em processo de argentinização?
Num sistema parlamentarista razoável, a extensão do escândalo na Petrobras já teria derrubado o governo. Os acordos de delação premiada já indicaram que Dilma e Lula sabiam de tudo. Se o Brasil quiser (e o gigante abrir pelo menos um dos olhos), essa investigação chegará onde tem que chegar. Esse é o único pacto possível contra a corrupção.
Em 1992, quando Collor estava balançando, já por um fio, Bussunda resolveu dar a sua contribuição e apareceu diante do Palácio do Planalto vestindo um tomara-que-caia — “em homenagem ao presidente”. É isso que falta?
Guilherme Fiuza é jornalista